Por Ana Amélia Abreu.
“Nenhum incêndio começa grande”. Esse é um mantra para o Corpo de Bombeiros. Todo grande incêndio foi, necessariamente, uma faísca, uma fagulha, uma centelha que, para olhos destreinados, poderia parecer absolutamente inofensiva e inocente.
Da mesma maneira, podemos afirmar que nenhum grande esquema de corrupção ou de fraude nasceu assim. Um dia, ele foi um pequeno desvio, uma conveniência, um delito quase que inofensivo, afinal, “todo mundo faz” ou “só estava agindo no interesse da empresa”.
O caminho para sermos uma sociedade mais ética, como diria Mario Sergio Cortella, está em adotarmos, inicialmente, o “hábito da correção”. Ou seja, não nos calarmos diante do pequeno desvio, da “faísca”. Quando começamos a entender que as pequenas atitudes ilegais ou antiéticas dos nossos colegas, lideranças, liderados, filhos, etc. são o berço para os grandes problemas do futuro e passamos a ter o hábito de corrigi-los, estamos contribuindo para a criação de uma cultura ética.
Ir por esse caminho é uma escolha diária, que tem muito mais a ver com pequenas decisões do dia a dia do que com grandes dilemas. A decisão de não estacionar em vagas especiais, quando você não é daquela categoria, mesmo que seja “só por 5 minutos”; a decisão de devolver um troco que veio maior do que o devido, mesmo que sejam “só 10 centavos”; de não comprar mercadorias de quem não paga imposto; de não incluir uma despesa pessoal como despesa da empresa, entre outras.
Aprendi, nesse meu caminho, que ajuda muito pensar no reflexo que aquela minha decisão terá no coletivo e na vida das outras pessoas que, de alguma maneira, serão impactadas: a pessoa com deficiência que não encontrará uma vaga adequada, o atendente que vai tirar o valor do salário dele quando a conta não fechar no final do dia, as pessoas que serão demitidas porque as empresas sérias estão perdendo clientes para empresas antiéticas ou ilegais.
Podemos até pensar que somos apenas uma gota no oceano, mas a verdade é que cada atitude importa. Que a gente possa parar para refletir sobre nossas “pequenas” corrupções.